Se você é fã de tênis, precisa conhecer Tinker Hatfield, uma lenda no design dessas peças tão importantes para o streetwear.

Ele esteve presente na série documental Abstract, do Netflix, uma das novidades — e melhores lançamentos — de 2017. Nos episódios, são contadas as histórias de grandes designers, sendo o segundo episódio dedicado à Tinker.

Seu auge foi nos anos 80 e 90, quando criou alguns dos tênis esportivos mais icônicos na Nike. Entre eles, se encontram clássicos como os tênis de Michael Jordan e o Air Max.

Com a moda esportiva em alta no cenário urbano, vale a pena investir na tendência e apostar em modelos de peso. E pode apostar que os sneakers de Tinker estão entre eles.

Achou legal? Então continue a leitura e descubra mais sobre esse mestre dos tênis!

A trajetória de Tinker Hatfield

Até chegar à faculdade, o designer estava trilhando o seu caminho para se tornar um atleta. Praticando basquete, futebol americano e atletismo, ele conseguiu uma bolsa na Universidade de Oregon.

Durante seus primeiros anos de curso, conheceu Bill Bowerman, seu treinador e um dos cofundadores da Nike, que era seu tutor nos treinos de salto com vara. Tudo estava indo bem, até que Tinker sofreu uma lesão ao cair de uma altura de 5 metros.

A partir de então, com o tornozelo lesionado, sua carreira no atletismo foi quase decretada como acabada. Entretanto, Bowerman o ajudou para que isso não acontecesse.

Além de orientar alunos nos esportes, ele também produzia sapatos para melhorar seu desempenho. Era tudo baseado em testes, alguns tinham ótimos resultados, enquanto outros deixavam os pés sangrando. E foi uma sapatilha que mudou o futuro de Tinker.

Contando com um suporte no calcanhar, o sapato resolvia seu andar manco, diminuía as dores e devolvia a possibilidade de Hatfield competir, de modo que ele não perdesse sua bolsa universitária. Assim, ele percebeu que poderia solucionar o problema dos outros pelo design.

Dessa forma, ele cursou arquitetura, quando começou a ajudar Bowerman em sua marca com a elaboração de algumas peças, lojas e prédios. Aos poucos, foi se tornando um designer de sapatos.

Paralelamente, a Nike estava perdendo parte de mercado para Reebok, que explodiu com a febre de exercícios aeróbicos nos anos 80.

Preocupada com seu futuro, a empresa decidiu renovar seu time. Para isso, elaborou uma competição de 24 horas a fim de contratar um novo designer. Hatfield, até então mais focado na arquitetura, resolveu participar.

Ele venceu ao elaborar um tênis em cima de uma narrativa, na qual o calçado seria perfeito para andar de moto e depois dar uma corrida, enquanto outros competidores apostaram em reciclagens de modelos já prontos. Com um storytelling bem-feito, uma visão versátil e futurista, não é surpresa ele ter ganhado, certo?

Dentro da Nike

Dois dias após a competição, em 1985, Tinker Hatfield foi contratado como designer na gigante dos esportes. Ao longo de sua carreira, ele chegaria a se tornar referência na pesquisa de performance do design e vice-presidente de design criativo e projetos especiais da Nike.

Em 1987, ele assumiu sua primeira iniciativa com o Air Max, de formato inovador e arriscadíssimo para a época. Muitos acharam que o tênis seria um fracasso, mas ele surpreendeu em termos de crítica e comerciais.

Após esse grande sucesso, Tinker foi escalado para outro projeto que já estava na corda bamba: o Air Jordan.

Com o surgimento do hip-hop e da moda street, os jogadores de basquete se tornaram referência fashion, e cada um tinha o seu tênis personalizado. Michael Jordan já tinha dois lançados pela Nike, mas seria com o terceiro que o rumo da linha mudaria.

Quando Hatfield assumiu a criação do Air Jordan III, o produto já estava 6 meses atrasado e o jogador estava insatisfeito com a parceria e queria sair da Nike.

Sua estética irreverente não só ganhou Jordan, mas o público, se tornando um dos modelos mais clássicos até hoje. Unindo performance e um design fantástico, o ícone do basquete começou a jogar ainda melhor nos campos, popularizando ainda mais sua linha, expandida em outras 15 edições com Hatfield na liderança.

Esses dois modelos, alguns outros e suas criações no cinema fizeram a Nike ganhar os pés dos jovens nos anos 80 e 90, tornando o visual esportivo cool. Tudo isso, graças o espírito inovador do designer.

As criações de Tinker Hatfield

Air Max

No primeiro tênis de que ele assumiu o comando na Nike, a aposta era nos amortecimentos com bolsas de ar. A inovação, além de estar presente na tecnologia, foi mais aparente no design.

Inspirado no prédio Centro Georges Pompidou, em Paris, que tem todos os seus mecanismos à mostra, o Air Max quebrou convenções ao deixar as bolsas de ar aparentes.

Considerado super cool na época e até hoje, com o retorno dos anos 90 à moda, foi um best-seller e segue de inspiração para modelos atuais.

Cross Trainer

De acordo com Hatfield, uma porção enorme das pessoas não usava tênis adequados para as práticas esportivas nos anos 90, o que acontece até hoje com o skate, não é mesmo? Isso diminuía o desempenho e chegava a motivar lesões que podiam ser facilmente evitadas.

Por isso, ele criou o Cross Trainer, um tênis versátil que poderia ser calçado em modalidades distintas. Ele dava estabilidade lateral e tinha uma tira para prender o pé e dar maior fixação para o usuário.

Ele mudou as ideias do que era certo no esporte. O jogador de tênis André Agassi foi importantíssimo ao usar versões neon, que quebraram os paradigmas de o tênis ser uma atividade branca e engomadinha. Nada poderia ser mais rebelde que o lema contra country clubs que ele promovia, e deu certo!

Air Jordan

O maior sucesso de Tinker — e um dos maiores da Nike — surgiu da parceria entre a gigante esportiva e o ídolo do basquete.

Michael Jordan já estava prestes a desistir de sua parceria com a marca, mas Tinker apresentou um tênis irresistível e que correspondia com sua personalidade ousada: o Air Jordan III.

Com o inovador cano alto, couro macio e estampa de elefante, seu design mudou tudo naquela época. Foi um sucesso absoluto em vendas e que não só apresentou uma nova estética, mas um novo caminho a ser seguido, uma vez que Jordan estava tendo melhores resultados em quadra.

Ano após ano, foram lançadas novas edições acompanhando a carreira explosiva do jogador. Hatfield assumiu o projeto até o Air Jordan XV, quando já se sentia desgastado e preferiu se aposentar para seguir novos rumos.

Surpreendentemente, em 2005, ele retomou a linha Jordan para criar um modelo em homenagem aos 20 anos de carreira do jogador, com uma edição limitada: o Air Jordan XX.

Segundo o designer e Jordan, esse foi o melhor e mais correspondente modelo da linha, ao criar uma estampa com símbolos que representassem todos os momentos vivenciados ao longo de sua carreira.

E.A.R.L.

Electro Adaptive Reactive Lacing, traduzido em cadarços reativos eletroadaptativos, foram os últimos tênis criados por Tinker, lançados em 2015. Eles têm tecnologia de ponta, com cadarços que se ajustam automaticamente.

Os atletas precisam de tênis ultra-apertados nos pés para algumas técnicas, mas que acabam prejudicando os membros ao longo do tempo. Assim, os cadarços inteligentes se apertam nos momentos certos e relaxam quando podem, promovendo um melhor fluxo sanguíneo.

A inspiração partiu do modelo MAG criado para o filme clássico De Volta para o Futuro 2, de 1989, em que o protagonista chega a 2015 e os Nikes tinham cadarços que se fechavam sozinhos. Foi um tênis que causou na época e, agora, serve de inspiração para o E.A.R.L., que pode mudar o rumo do design dos sneakers.

Ao longo de sua carreira, o designer lançou diversos sucessos, todos seguindo o lema de que arte é diferente de design por a primeira ser a maior autoexpressão de um indivíduo, enquanto design é solucionar o problema dele e, no máximo, esperar que fique bonito.

Tinker conseguiu os dois, a partir do design criativo e inovador que o transformou em uma lenda dos tênis. Hoje, ele segue como orientador para os mais jovens, e seu maior conselho é olhar para fora para criar. Afinal, é vivendo a vida que se consegue inspiração!

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